Just a memory?

O cinzeiro contínua cheio, ainda há garrafas de cerveja espalhadas pela sala, no quarto a tua roupa ainda continua no armário. As fotografias ainda estão expostas em todos os cantos da casa, e todos os dias eu deito no pulso um pouco do teu perfume. Gosto de te sentir por perto, mesmo tu não estando aqui. Ainda tenho os mesmos hábitos, ainda frequento os mesmos sítios, porque tenho medo que voltes e não me reconheças, ou que simplesmente não gostes da mudança. Sou louca, louca por esperar por ti, por continuar cegamente apaixonada por ti depois de todos estes anos. As pessoas tendem a julgar-me, dizem que não estou no meu perfeito juízo, pois todas as noites eu me sento na janela e espero, fico horas a olhar o vazio, a imaginar-te voltar, mas se elas soubessem, se elas soubessem o que eu sinto. Eu não falo de ti, ninguém sabe de ti, porque se a partir de agora tu fores só uma memória, eu quero que sejas apenas meu, que mais ninguém fique pensando em ti, que mais ninguém te procure na rua, ou julgue ter-te visto, porque tu és o outro pedaço da história, uma história que é só minha. E quando me deito sonho contigo, e na manhã seguinte dói, dói-me a alma, dói-me o coração, e sinto-me tão ridiculamente pequena que tenho vontade de chorar, porque tu não estás mais aqui, num outro lugar, numa outra hora, alguém te está a abraçar, alguém está a sentir o calor do teu corpo, o cheiro da tua pele, e esse alguém não sou eu, e dói, porque ambos sonhámos juntos, e agora eu sou a única a sonhar.